Edição 30
Hoje, quem não tem medo? E quais são os nossos medos? “O medo” é o tema do dossier central da Electra 30. Assunto omnipresente no discurso político e cultural da actualidade, é aqui analisado nas suas intenções, funções e efeitos. Conceituados autores têm estudado as múltiplas dimensões deste tópico, que ocupa hoje um lugar fundamental na vida quotidiana. O seu poder não decorre apenas de causas objectivas e incontroláveis — como a guerra, a crise ecológica ou a instabilidade económica —, mas também do seu uso deliberado como instrumento nas práticas de governo. Na história do pensamento ocidental, o medo tem sido um elemento estruturante de várias antropologias filosóficas. É, também, uma das matérias-primas da História: ao longo dos séculos, caracterizou épocas, deu forma a regimes e alimentou dinâmicas colectivas. Neste dossier, reúnem-se textos e entrevistas que procuram pensar os medos específicos do nosso tempo, nascidos das actuais condições históricas, sociais, políticas e culturais, com contributos de autores como Frank Furedi, Miguel Benasayag, Frédéric Neyrat, Pedro Levi Bismarck, Jonathan Rosenbaum e António Guerreiro.
Na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas duas entrevistas: uma com o escritor francês Pascal Quignard, autor de uma imensa obra literária que atravessa vários géneros, que dialoga com outras artes e é marcada pelas suas incursões culturais e históricas, com destaque para a Antiguidade Romana; outra com o académico norte-americano W. J. T. Mitchell, uma das referências maiores no campo dos estudos visuais, que nos fala dos novos desafios colocados pelas máquinas digitais e a inteligência artificial, e sobre as dificuldades de entrever a própria sobrevivência da espécie humana no actual clima político.
Julia Wachtel, consagrada artista norte-americana, é autora do portfolio desta edição, representativo de uma obra de grande sedução visual em que está presente um pensamento crítico que interroga as imagens e a sua incessante proliferação. Este trabalho é acompanhado por um texto do poeta e ensaísta Arthur Solway.
Tilmann Lahme, reconhecido especialista da família Mann e dos seus notáveis membros, escreve para a Electra um ensaio interpretativo que nos revela a figura do grande escritor Thomas Mann, que se tornou símbolo de um tempo e de um mundo, dos seus conflitos e tragédias.
Na secção “Arca de Noé”, o escritor e curador Thomas Dylan Eaton conta-nos a relação do cineasta Kenneth Anger com o biólogo Alfred C. Kinsey e com o instituto de investigação por ele fundado, que revolucionou o entendimento sobre a sexualidade humana.
Ainda nesta edição a investigadora Anne Clerval reflecte sobre a gentrificação das cidades, partindo do caso de Paris; a historiadora Yannick Ripa evoca o cinquentenário da criação pela ONU do Dia Internacional da Mulher e da aprovação, em França, da Lei Veil, que despenalizou a interrupção voluntária da gravidez; o curador Frederico Duarte visita Chemnitz, nomeada Capital Europeia da Cultura 2025, viajando também pelas cidades que ao longo dos anos foram sucessivamente escolhidas para darem corpo a esta ambiciosa iniciativa; e o jornalista José Vítor Malheiros escreve sobre a palavra “Estabilidade”.







