Lembro-me dos verões sempre chuvosos da Cidade do México. Chove sempre no meu dia de anos.
Lembro-me da Cidade do México quando penso nos edifícios dos anos 70 com mosaicos coloridos nas fachadas formando figuras geométricas, quando vejo chão de parquê e persianas de bambu, e lembro-me da Cidade do México quando penso no som das batatas-doces aos domingos à noite. Quando num domingo à noite passou o carrinho das batatas-doces, um amigo disse que aqueles eram os sinos do Apocalipse.
Lembro-me dos sons da rua: o gás, a sineta do camião do lixo pelas manhãs, o amolador de facas, os ferrinhos de um senhor idoso que vende barquilhos e obreias em Escandón, o som dos aviões que passam regularmente ao fundo, o barulho dos carros no Viaducto, de repente, um reboque, o estrondo de um camião de carga. A gravação «Coooompram-se colchões, tambores, frigoríficos, fogões, máquinas de lavar roupa, micro-ondas ou qualquer ferro-velho que queiram vender»…
Lembro-me dos esquites1 aos domingos na praça de Coyoacán. Quando era criança, adorava os domingos de esquites. Sem maionese ou pimenta, apenas sal e limão, por favor.
Lembro-me de ensinar uma amiga gringa que veio viver para a Cidade do México a pronunciar chido, chale, chingón, órale, híjole e no mames2, dando exemplos de como se utilizam algumas palavras do repertório básico. Também lhe ensinei a perguntar: Onde fica o OXXO?3
Lembro-me do Hino Nacional aos domingos à meia-noite em todas as estações de rádio, fora de tempo, dessincronizados em fragmentos, como entre espelhos.
Lembro-me de ouvir a música de Rockdrigo, com minis e Cheetos, no estúdio de um amigo artista, enquanto ele pintava uma águia a devorar uma serpente.
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